De acordo com as investigações, o dinheiro seria usado como caixa dois em campanhas políticas.
A edição da revista Época que chega às bancas neste final de semana
traz reportagem que revela um novo escândalo de desvio de dinheiro
envolvendo o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e integrantes do Partido
dos Trabalhadores. A Polícia Federal investiga um rombo de R$ 100
milhões, que seriam destinados a financiamento de campanhas políticas.
De acordo com a revista, o novo esquema de desvios e fraudes no BNB
teria ocorrido com o uso de laranjas ou notas fiscais frias para
justificar empréstimos ou financiamentos tomados no banco. Entre os
nomes envolvidos nas investigações da Controladoria Geral da União (CGU)
e da Polícia Federal, há pelo menos dez filiados ao PT.
A reportagem relembra o caso dos "dólares na cueca",
em referência ao poder do deputado federal petista José Nobre Guimarães
sobre o BNB. Na época do escândalo, em 2005, um ex-assessor de
Guimarães foi preso no Aeroporto de Garulhos com mais de US$ 100 mil na
cueca. As investigações indicaram na ocasião que o dinheiro era propina
recebida pelo então chefe de gabinete do BNB e ex-dirigente do PT,
Kennedy Moura, para acelerar empréstimos no banco.
O suposto desvio de dinheiro também envolve o atual chefe de gabinete
do BNB, Rogério Gress do Vale. Ele foi o quarto maior doador como pessoa
física para a campanha de 2010 do hoje deputado federal José Guimarães.
Somente a empresa dos cunhados de Rogério Vale recebeu quase R$ 12
milhões do banco em empréstimos fraudulentos.
O poder de Guimarães sobre o BNB pode ser medido a partir da lista dos
doadores de sua bem-sucedida campanha ao segundo mandato, dois anos
atrás, diz a revista. A maior doação de pessoa física é dele próprio. A
segunda é de José Alencar Sydrião Júnior, diretor do BNB e filiado ao
PT. A terceira é do também petista Roberto Smith, presidente do banco no
período em que ocorreram operações fraudulentas e hoje presidente da
Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará, nomeado pelo governador
Cid Gomes (PSB).
O atual presidente do BNB, Jurandir Vieira Santiago, vem em 11º na
lista de doadores para a campanha de José Guimarães. Eleito para a
Câmara Federal pela primeira vez em 2006, com a maior votação do Ceará,
Guimarães ganhou poder na Câmara. Tornou-se vice-líder do governo e
passou a ser amplamente reconhecido como o homem que indicava a
diretoria no Banco do Nordeste. No disputado campo de batalha da
política nordestina, o BNB é território de José Guimarães, assinala
Época.
Apresentado ao levantamento e aos documentos, o promotor do caso,
Ricardo Rocha, foi enfático ao afirmar que vê grandes indícios de um
esquema de caixa dois para campanhas eleitorais. “O número de filiados
do PT envolvidos dá indícios de ação orquestrada para arrecadar
recursos”, afirma Rocha.
A maioria das operações fraudulentas ocorreu entre o final de 2009 e o
início de 2011. Somados, os valores dos financiamentos chegam a R$ 100
milhões, e a dívida com o banco a R$ 125 milhões. Só a MP
Empreendimentos, a Destak Empreendimentos e a Destak Incorporadora,
empresas que pertencem aos cunhados de Robério do Vale, conseguiram
financiamentos na ordem de R$ 11,9 milhões. Elas pertencem aos irmãos da
mulher de Robério, Marcelo e Felipe Rocha Parente.
Segundo a auditoria do próprio banco, as três empresas fazem parte de
uma lista de 24 que obtiveram empréstimos do BNB com notas fiscais
falsas, usando laranjas ou fraudando assinaturas. As empresas foram
identificadas após a denúncia feita por Fred Elias de Souza, um dos
gerentes de negócios do Banco do Nordeste. Ele soube do esquema na
agência em que trabalhava, a Fortaleza-Centro, e decidiu procurar o
Ministério Público, em setembro do ano passado.
Guimarães repudia envolvimento
O deputado Guimarães nega ter conhecimento das irregularidades e
repudia qualquer envolvimento de seu nome relacionado a desvios de
recursos no BNB. O comando do BNB diz nunca ter sido omisso quanto às
irregularidades e que vários dos envolvidos foram demitidos. Robério do
Vale, chefe de gabinete, afirma que sua função não interfere no processo
de concessão de crédito. Ele diz que o banco deve apurar as
irregularidades e punir os responsáveis. O ex-presidente do banco
Roberto Smith diz não ter tomado conhecimento do relatório da CGU nem
das conclusões da auditoria interna, por estar fora do banco desde 2011.
Afirma que, no final de seu mandato, recebeu denúncia de desvios de
crédito e encaminhou para a auditoria.
Fonte: Cnews
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