A ex-senadora Marina Silva se filiou na
tarde deste sábado, 5, ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos. O anúncio foi feito no Hotel Nacional, em Brasília. "O
PSB já tem um candidato; por que não apresentar o nosso programa a
este candidato?", disse, referindo-se a Campos. "Agradeço
ao PSB pela chancela política que a Justiça Eleitoral não nos quis
dar", afirmou Marina, que na quinta-feira, 3, teve sua Rede
Sustentabilidade rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral – ela
não conseguiu o número mínimo de assinaturas para criar a sigla.
"Vamos andar o Brasil lado a lado", disse Campos em
discurso. Em entrevista coletiva após o anúncio, Marina não
admitiu se será vice na chapa do governador de Pernambuco que
disputará a Presidência no ano que vem: "Tudo o que aconteceu
é muito mais do que a discussão do lugar que se ocupa numa chapa."
Juntos, Campos e Marina serão a
terceira via das eleições de 2014, tendo pela frente a presidente
Dilma Rousseff, que tentará a reeleição, e o senador tucano Aécio
Neves. No mês passado, o PSB deixou a base de apoio ao governo
Dilma. A ex-ministra teve de correr para arrumar um partido – o
prazo de filiação para quem quer concorrer a cargo eletivo no ano
que vem termina neste sábado.
Marina disse que não se sente
derrotada com a decisão da Justiça Eleitoral que negou à Rede o
registro. "A derrota ou a vitória só se mede na história.
Apressam-se aquele que pensam que a história se resolve em uma
canetada", afirmou logo no início de sua fala para um auditório
lotado. Ela destacou que a Rede já é um partido do ponto de vista
político e programático. "Mesmo já tendo a chancela da
sociedade, de um registro moral, de que de fato somos um partido
político, nos foi cassado o direito de nos constituirmos como tal."
A Rede, segundo Marina, é o "primeiro partido clandestino
criado em plena democracia".
Segundo quem acompanhou a negociação,
pessoas da classe artística contribuíram para o entendimento. Um
dos que se envolveram foi o cineasta e diretor de televisão Guel
Arraes, tio de Campos e filho de Miguel Arraes, fundador do PSB, já
falecido. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), próximo de Marina, foi
outro que ajudou.
O encontro entre Campos e Marina para
selar a aliança ocorreu em Brasília e avançou pela madrugada de
sábado. O governador, que preside nacionalmente o PSB, já tinha
mandado emissários para avisar a ex-ministra do Meio Ambiente da
disposição de buscar um acordo.
Os termos acordados preveem um "abrigo
transitório" no PSB para as pessoas envolvidas no processo de
criação da Rede. Desta forma, a aliança seria tratada como se
fosse com outro partido. "Vamos tratar como uma coligação e
respeitar a pré-candidatura dela", disse ontem o presidente do
PSB mineiro, deputado Júlio Delgado. "Fica claro para a
sociedade que Eduardo Campos e Marina Silva formam juntos uma
terceira via no processo eleitoral."
Formalmente, Marina e Campos
continuarão dizendo que são pré-candidatos, mas o plano da chapa
já é admitido. "Ela se disporia a ser vice do Eduardo Campos,
porque reconhece a candidatura dele, mas essa discussão será no
momento futuro e não há ansiedade nisso", disse Bazileu
Margarido, coordenador executivo da Rede.
Bazileu afirma que apesar dos convites
de vários partidos, a escolha pelo PSB deveu-se a uma "maior
identidade programática e nos Estados" com a Rede. "Foram
definidas algumas questões importantes, o reconhecimento da Rede
como um partido de fato, em função do reconhecimento o PSB abrirá
a possibilidade de filiações democráticas e transitórias para os
integrantes da Rede que quiserem se candidatar."
Dirigentes do PSB observam que alguns
ajustes regionais terão de ser feitos para abrigar todos os
integrantes da Rede, mas descrevem como "problema menor"
ter de solucionar as pendências, diante do ganho da legenda em ter
Marina nos seus quadros.
Na entrevista concedida na sexta-feira,
Marina já tinha afirmado ser um de seus objetivos evitar uma
polarização entre quem é "situação por situação e
oposição por oposição".
Tido como uma das opções para abrigar
Marina, o PPS é agora procurado para apoiar a aliança. A
ex-senadora reuniu-se com dirigentes da legenda no início da manhã
deste sábado. O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), porém, não
gostou da atitude de Marina e afirmou a ela que a união de Campos
seria um "desastre". Marina, porém, argumentou na conversa
que sua atitude dá uma resposta ao Palácio do Planalto para a
acusação de que desejava ser candidata a qualquer custo.
Andreza
Matais / Estadão
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